VISTA
“VISTA” – Uma recriação cênica para “Vista Chinesa”, de Tatiana Salem Levy
Nova criação da Polifônica, “VISTA” é um solo que articula teatro, vídeo e música ao vivo para recriar em cena a obra “Vista chinesa”, de Tatiana Salem Levy — finalista dos prêmios Jabuti, Oceanos e São Paulo de Literatura 2022.
Com atuação de Julia Lund e direção de Luiz Felipe Reis, “VISTA” realizou sua primeira temporada em março de 2023, no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, e em seguida, em junho de 2023, realizou sua segunda temporada no SESC Av. Paulista, em São Paulo, se tornando uma das mais comentadas encenações da temporada teatral brasileira — VISTA conquistou o Prêmio Deus Ateu de Teatro e Artes 2023 de melhor espetáculo, assim como foi indicado ao mesmo prêmio na categoria melhor atriz.
“VISTA” constrói sua encenação a partir de um episódio real: um estupro ocorrido à luz do dia em um dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro, a Vista Chinesa, às vésperas das Olimpíadas de 2016. A montagem gira em torno de um contundente relato, em primeira pessoa, desta experiência de violência sexual, acompanhando seus diferentes desdobramentos e, sobretudo, o processo de metamorfose e regeneração existencial vivido pela vítima-sobrevivente após este trágico e traumático acontecimento.
Este trabalho dá continuidade às investigações estéticas e temáticas da Polifônica acerca da noção de polifonia cênica, assim como sobre a tênue linha que aproxima e dilui as fronteiras entre autobiografia e autoficção, assim como sobre as relações entre o trágico e o trauma, a violência e a resiliência, a metamorfose, a regeneração e afirmação das pulsões de vida — elementos investigados e tensionados em todos os projetos anteriores da Polifônica, como “Estamos indo embora...” (2015), o díptico “Amor em dois atos” (2016), “Galáxias” (2018) e o solo teatral e audiovisual “Tudo que brilha no escuro” (2020).
PRESS-RELEASE
Finalista do Prêmio Jabuti, o romance “Vista Chinesa” (2021), de Tatiana Salem Levy, ganha inédita recriação teatral pelas mãos da Polifônica, de Luiz Felipe Reis e Julia Lund. Espetáculo multidisciplinar, que reúne cinema, música e teatro, “VISTA” leva à cena os desdobramentos de um caso atroz de estupro ocorrido às vésperas da Olímpiada de 2016, no Rio, em plena luz do dia, em um dos principais cartões-postais da cidade.
A montagem do solo gira em torno de um contundente relato, em primeira pessoa, desta experiência absurda de violência sexual e, sobretudo, do processo de metamorfose existencial vivido pela personagem após este acontecimento, com dramaturgia assinada por Luiz Felipe, Julia e por Catharina Wrede.
Em cena, a atriz conta a história da arquiteta que, antes de ir a uma importante reunião com a prefeitura, a respeito da construção do Campo Olímpico de Golfe, tem seu destino golpeado por um homem que atravessa o seu caminho. Esportista, ela decide correr no Alto da Boa Vista antes de seguir para o compromisso de trabalho. É durante este percurso que ela é abordada por um sujeito armado, que encosta um cano de revólver na sua cabeça e a arrasta floresta adentro. Forçada a avançar mais e mais na mata, a personagem, que também se chama Julia, assim como Lund, chega a um ponto de completa desorientação geográfica e psíquica. Então, é violentada, estuprada e abandonada sozinha na mata.
— É um trabalho que se abre a múltiplas dimensões e questões. A peça é toda construída a partir do relato pessoal de uma mulher, a personagem Júlia, vítima de violência sexual, e se apresenta como uma jornada de reflexão e de elaboração sobre os desdobramentos deste caso de estupro, um tipo de crime que envolve violência de gênero e sexual, e toda a opressão produzida e legitimada pela sociedade machista e patriarcal — diz a atriz. — De certa forma, é contra o silenciamento e a ocultação de um dos crimes mais praticados e mais invisibilizados no país que levantamos esta encenação. Afinal, o silêncio, a invisibilização e o esquecimento protegem, somente, opressores e agressores, enquanto a expressão — através de diferentes formas — fortalece e protege não só as inúmeras vítimas de violência, mas também toda a memória, o presente e o futuro de uma sociedade.
— Júlia, a personagem de quem eu me aproximo em cena, é uma mulher que vive e compartilha conosco a necessidade e a coragem de lidar com o trauma sem desvios, acreditando que só assim, lidando com o real e evitando sua negação, é possível voltar a viver e a ter prazer na sua relação com a vida, com o outro e com o seu próprio corpo. VISTA é, portanto, a perspectiva particular desta mulher de como é possível se relacionar com o trauma, elaborar suas marcas e fissuras — o que inclui processos de recordação e esquecimento, ressignificação e transformação de acontecimentos e sentidos —, mostrando que é possível sim atravessar esse ciclo infernal de sensações e experiências, sabendo que esse ciclo de sofrimento, como tudo na vida, também se transforma e se encerra, de certa forma, tornando possível viver e aproveitar a vida de novo.
Viva e morta ao mesmo tempo, com a consciência de que nada será como antes, Júlia tem sua existência transfigurada. O passado é um assombro. O presente é um abismo. O futuro, desconhecido. Com as roupas rasgadas, sem telefone e descalça, ela se arrasta como pode para encontrar um caminho de volta até a estrada enquanto a luz se dissipa por entre as árvores. Horas mais tarde, após uma infernal e solitária jornada com os pés no asfalto, ela enfim chega em casa, onde o namorado e alguns familiares a esperam.
— Além de sua fundamental camada de denúncia e de questionamento político, social e cultural, VISTA é, a meu ver, uma história e uma encenação marcadas pelo trágico e pelo trauma, mas com foco, sobretudo, nas capacidades humanas de resiliência e de regeneração, nas forças de metamorfose e de transformação, e na vontade de afirmação da pulsão de vida e das forças de ligação à vida (pulsão erótica) em contraponto às forças de destruição e de morte, de desligamento e de desistência da vida — diz o diretor. — VISTA é um olhar sobre o corpo, a subjetividade e o imaginário como territórios de resistência, de transformação e de reinvenção existencial (reexistência), como forças de criação. A partir da perspectiva em que consigo enxergar e observar este trabalho, portanto, sinto que VISTA oferece ao público tempo e espaço para uma delicada reflexão sobre esta tenaz e persistente pulsão ou capacidade humana — embora não apenas humana — de não sucumbir e de não desistir da vida mesmo tendo vivido e atravessado o atroz, o horror, o inferno. Júlia, a protagonista da obra, é uma mulher que viveu o inferno e viu, como ela mesma diz, o diabo de frente — ou pior, o diabo e o inferno invadindo o seu próprio corpo a fim de aniquilar sua vitalidade, sua auto-estima e sua vontade de viver.
O que vemos em cena é, de alguma forma, a resposta de Júlia ao horror. Cada cena é um fragmento da travessia que a personagem empreende não apenas a fim de sobreviver, mas a fim de afirmar a sua vontade de viver, de poder fruir e desfrutar da vida novamente. Todo percurso dramatúrgico da obra é, então, uma troca de pele, um processo de metamorfose subjetiva, uma jornada de elaboração e de ressignificação dos acontecimentos vividos pela personagem. VISTA é, assim, um olhar sobre uma busca. Assistimos a uma mulher que busca se aproximar daquilo que a faz querer continuar a viver, em busca de inventar um outro modo de viver — em resposta ao abismo e ao desamparo provocados por uma experiência traumática de violência sexual.
Ao ser levado aos palcos como um solo teatral e audiovisual, “VISTA” ganha novas camadas e planos de realidade e de ficção. Neste sentido, a montagem dá continuidade às investigações estéticas e temáticas da Cia. sobre a polifonia cênica, sobre a tênue linha que aproxima e dilui as fronteiras entre autobiografia e autoficção, assim como sobre as relações entre o trágico e o trauma, a violência e a resiliência, a metamorfose, a regeneração e afirmação das pulsões de vida — todos estes elementos também foram investigados e tensionados em seus projetos anteriores, como “Estamos indo embora…”, o díptico “Amor em dois atos” (2016), “Galáxias” (2018) e o solo audiovisual “Tudo que brilha no escuro” (2020). “Vista” expõe em cena um processo em que a memória é uma capacidade humana sempre lacunar, incompleta, seletiva, mas ainda assim fundamental a todo processo de recomposição da vida.
A equipe criativa do espetáculo conta ainda com a performance musical ao vivo de Pedro Sodré, criação e manipulação de vídeo ao vivo de Isis Passos e Helô Duran, criação cinematográfica de Dani Wierman e Mari Cobra, cenografia de Dina Salem Levy, luz de Alessandro Boschini, direção de movimento de Laura Samy e figurino de Thais Delgado.
EQUIPE DE CRIAÇÃO
Atuação: Julia Lund
Direção, concepção geral + câmera ao vivo: Luiz Felipe Reis
A partir da obra “Vista Chinesa”, de Tatiana Salem Levy
Dramaturgia: Luiz Felipe Reis, Julia Lund e Catharina Wrede
Trilha sonora original e Performance musical ao vivo: Pedro Sodré
Pesquisa musical e sonora: Luiz Felipe Reis e Pedro Sodré
Direção de tecnologia, criação + efeitos em vídeos e operação de vídeo: Isis Passos + Helô Duran (Miwí)
Cenário: Dina Salem Levy
Assistente de cenografia: Tuca Benvenutti
Luz: Alessandro Boschini
Figurino: Thais Delgado
Criação e produção de vídeos, dir. fotografia e montagem: Dani Wierman e Mari Cobra com Felipe Ovelha (operação de câmera em vídeo)
Direção de movimento: Laura Samy
Interlocução artística: Fernanda Bond
Operação de luz: Tiago D'Avila
Operação de som: Gabriel Lessa
Confecção de máscara: Alexandre Guimarães
Design gráfico: Clarisse Sá Earp (umastudio)
Fotografia estúdio: Renato Pagliacci
Make: Sabrina Sanm
Fotografia de cena: Renato Mangolin
Cinematografia: Chamon Audiovisual
Mídias Sociais: Luli Fru
Assessoria de comunicação: Dobbs Scarpa
Direção de produção: Gabriela Gonçalves e Rodrigo Fidélis (Corpo Rastreado)
Produção executiva: Anne Mohamad
Contrarregras: Júlia Tavares e Wilson Souza
Idealização e coprodução: Polifônica
Participação em off das atrizes Carolina Virguez, Camila Lucciolla, Cris Larin, Fernanda Nobre, Helena Varvaki, Lisa Eiras e Valentina Herszage a partir de trechos das obras “Abuso”, de Ana Paula Araújo, e “A vida nunca mais será a mesma”, de Adriana Negreiros.
SOBRE A POLIFÔNICA
Polifônica é um núcleo multidisciplinar de pesquisa e criação artística fundado pelo diretor e dramaturgo Luiz Felipe Reis e pela atriz Julia Lund no Rio de Janeiro. Com foco em teatro e em experiências performativas, desenvolve desde 2014 uma pesquisa estética e temática acerca das noções de “Polifonia Cênica” e de “Contra-cenas ao Antropoceno”, articulando o teatro e outras formas de arte, com o objetivo de construir experiências imersivas capazes de gerar reflexão e sensibilização para a crise ambiental e civilizacional que a humanidade produz e enfrenta nesta era do AntropoCapitaloceno. A Polifônica foi indicada ao Prêmio Shell 2015 na categoria Inovação, com “Estamos indo embora...”, pela “multiplicidade de linguagens artísticas adotadas para abordar a ação do homem nas transformações climáticas”. Em 2016, a Cia. recebeu indicações e conquistou prêmios (APTR e Cesgranrio) com “Amor em dois atos”, criada a partir da obra do dramaturgo francês Pascal Rambert. Em 2018, apresentou “Galáxias”, com textos de Luiz Felipe Reis e do argentino J. P. Zooey, e em 2020 criou o solo teatral e audiovisual “Tudo que brilha no escuro”, indicado ao Prêmio APTR 2020 de melhor Espetáculo Inédito Ao Vivo. Além do espetáculo “Vista”, para 2023 a Polifônica prepara a estreia de “2666”, adaptação inédita na América Latina para a obra de Roberto Bolaño, e para 2024 planeja a estreia de “AWEI!”, a partir da obra “Banzeiro òkòtó”, de Eliane Brum.